segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A FIGUEIRA MENTIROSA

A FIGUEIRA MENTIROSA

A Casa do Oleiro, nem sempre é um lugar gostoso de estar. Úmida fria, escura e o pior de tudo, é o silencio daquela roda girando, girando e produzindo apenas a expectativa de nossa alma ansiosa para ver a beleza do próximo vaso. Sua forma, sua utilidade e praticidade, e até o tempo que leva para ser moldado cada vaso nos impressionam. Pensar no fato de ser o oleiro aquele quem determina a forma e até mesmo a utilidade do vaso me enche de temor, e como diria Paulo, “e de tremor”.
Sempre houve pelo menos um vaso sendo moldado, e alguns vasos sendo reformados, restaurados, refeitos.
Certa vez alguém disse:
- “Aqui é a Oficina do Espírito Santo! O laboratório de Deus!


Ela não passava dos 17 anos. Magérrima! Olhos grandes e pretos, cabelos pintados de vermelho, Tez muito branca e sardenta. Enfiada folgadamente em uma camiseta preta e longa, até a altura dos joelhos, escondendo uma bermuda também preta. Calçava tênis vermelhos e meias pretas até o meio das  pernas. Não á vi duas vezes. Aquela foi a primeira e a ultima logo única que nos encontramos.
- “Não foi justo amaldiçoar a figueira! Não era tempo de fruto. Não acho justo da parte do Senhor ter feito aquilo!”. Falou um senhor, gordo e muito pálido que também estava ali pela primeira vez, e voltou outros dias naquele verão. Alguém retrucou no fundo da sala:
- E volta Jesus ao banco dos réus, por culpa da figueira infrutífera!
Algumas pessoas se indignaram com o sarcástico comentário e pediram silencio. O velho senhor gordo, tomou a palavra novamente e comentou:
- Se eu sei que alguém não pode ir contra um processo natural para produzir algo no tempo que eu desejo, é injusto de minha parte punir essa pessoa. Jesus esta condenando uma figueira que não deu fruto antes do tempo certo. Ou Jesus esta fazendo uma inútil demonstração de seu poder e autoridade, ou estava cometendo mesmo uma grande injustiça. Qualquer pessoa que estivesse, (ou mesmo que se coloque) no  lugar da figueira, iria sentir-se injustiçado, e com muita razão.
- DEUS É VERDADE, e não suporta mentira! –bradou a pequena estranha no meio da sala, com voz grave e pausada. Enquanto que aqui eu pensei; sem deixar de esboçar um leve sorriso: - “ela vai falar também!”, pois me parecia mais um roqueira constrangida pelos pais, que não consegui identificar no ambiente, que alguém realmente interessada em coisas de Deus, sobretudo na VERDADE.
- DEUS NÃO SUPORTA A MENTIRA!- continuou a jovem: - Jesus esperava de Israel o mínimo de reconhecimento de sua origem divina, estava ali, buscando fruto! Escolheu discípulos, treinou esses homens e algumas mulheres que são mencionadas como as que o serviam, e outras cujos nomes nem aparecem, mas estavam lá, ao seu lado com certeza, tanto quanto estiveram ao pé da cruz.  Jesus fez milagres, curou enfermos, deu vista aos cegos, um fato que nunca se ouviu na História de Israel. Ressuscitou mortos, e fez paralíticos andar, mudo falar, salvou da morte mulheres adulteras, restaurou a vida de homens como Zaqueu, como Levi, expulsou demônios, restitui a sanidade mental de homens como o gadareno do cemitério, socorreu até mesmo centuriões romanos em seus desesperos, perdoou prostitutas e as tratou com respeito e amor, multiplicou pães e peixes, fez pescarias maravilhosas, ansiou em seu coração congregar Jerusalém com pintinhos sob as asas da galinha, porém a nação prosseguiu com seus rituais, com suas religiosidades hipócritas, sem dar atenção ao Sermão da Montanha, preferindo o Sermão do Sinai.
Não havia fruto na figueira! Aduba-la de novo? Deixar ficar mais um pouco? Para que?
Estava cheia de folhas, como Jerusalém repleta de atividades religiosas, com sangues de bodes e de touros, como muitos cristãos com caras de santos, praticas piedosas em função do comercio e do lucro, vendendo seus novilhos defeituosos para sacrifícios imundos. Suas teologias, frias e mortas pelas letras, pelas tradições humanas, pelas filosofias terrenas da sabedoria terrena e diabólicas.
Jesus quer fruto! Esta buscando fruto! Resultado daqueles cujas vidas como ramos frutíferos, ainda que podados continuam ligados a VIDEIRA VERDADEIRA!
Jesus busca fruto, pois vê a figueira mostrando vida, porém descobre ao tocá-la que é só aparência, só capa... A figueira como muitos crentes, está encapada com a aparência de piedade, com a falsa espiritualidade das obras, dos espiritualismos ritualistas. Verdejante, linda, maravilhosa, porém sem fruto, sem um sequer.
Mentirosa, enganadora, e hipócrita, finge ter vida, mas esta morta. Sua seiva é só para si, nada produz para os outros, nada produz  para Cristo.
Não lhe resta outra alternativa se não nos mostrar que aqueles que vivem uma vida cristão para si mesmos, nada mais são que malditos desde a raiz.

Assim como se levantou e falou, também se sentou e silenciou sua voz.
Na casa do oleiro, até então nunca havia visto alguém falar como ela falou naquele dia. O silencio, nos fez ouvir a roda começar a girar, e um leve ruído que parecia mãos apertando uma porção de barro úmido.
Fiquei olhando para ela, me perguntando de onde viera aquela figura tão estranha e aparentemente triste e sorumbática. Não fiquei sabendo, depois que me ajoelhei e orei por algum tempo, ela já não estava mais lá. No fundo da sala, o velho gordo, pálido limpava ainda o rosto banhado por lágrimas...
O silencio, era um verdadeiro louvor a Deus enquanto aguardávamos novo vaso, derramando seu conteúdo.


Jcflor.- Daniel.

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