AGUARDANDO O MOVER DAS AGUAS
Na madrugada quente de verão, podia se perceber que algumas pessoas cochilavam, pelas cabeças pendentes, além do silencio que já durava quase uma hora. Costumava dizer que na Casa do Oleiro, até dormir era edificante. Pois o silencio na Casa do Oleiro é Louvor a Deus, com certeza. Aquele estado de adoração reverente em que a expectativa de ouvir Deus é tão grande que evitamos até pensar, para não confundirmos os nossos pensamentos com a Voz de Deus.
Alguém levantou-se e leu João 5, a respeito do tanque de Bethsda.
-Fala Deus! Toca-me com brasas do altar.
Era o único pedido que me saltava ao coração.
-Fala Deus! Preciso ouvir-te!
Entre precisar ouvir e desejar ouvir um abismo parecia estar sendo cavado. Queria eu mesmo ouvir o que Deus tinha a dizer?
Observando a Casa do Oleiro, naquele momento ela mais se parecia com o Tanque de Bethsda, ou “a Casa da Misericórdia”. E aquilo provocou em meu coração um forte temor. A sala estava cheia. Algumas pessoas eram turistas, que vieram desfrutar o verão! Estavam ali mais pelo impulso religioso da curiosidade, da coceira nos ouvidos, sofrendo da enfermidade espiritual do século, o religiosismo supersticioso, a busca de novidades, correndo atrás de revelações, de manifestações surrealistas, fantásticas, esperando algo extraordinário acontecer, com alguém, ou com todos, e quem sabe consigo mesmos. Então o silencio, o maravilhoso silencio que se abateu sobre todos, tornou-se uma frustração; cansativapara muitos.
Quando Deus esta falando os homens devem calar-se. Quem não temerá quando o Rei da Glória expele seus Trovões? Somente os tolos ousam se mover na direção dos seus próprios interesses.
Aquela noite estava mais pra Tanque de Bethsda que Casa do Oleiro. A expectativa de alguma coisa acontecer era tão grande que como no Tanque de Bethsda nenhum doente percebeu a chegada de Jesus. Silenciosamente ele entrou, e apenas com um homem ele dialogou: - Queres ser curado? Você quer mesmo ser curado? Você deseja ser curado?
A esperança desse homem, por 38 anos esteve no mover das águas no tanque, no qual para infelicidade de todos, somente um único enfermo, mergulhando primeiro ao mover das águas, era curado. Ali, aqueles que estavam enfermos no corpo, ficavam enfermos na alma. Frustrados, angustiados, ansiosos, invejosos, competitivos, porque só o primeiro era o único curado. Imaginem, cegos, aleijados, paraplégicos, mutilados, arrastando-se ou sendo arrastados até o tanque. O desespero, a gritaria, a loucura! Que cena degradante! Por 38 anos aquele homem assistiu dia e noite, claro que “de vez em quando” alguém ser curado entrando primeiro na água agitada pelo anjo.
Jesus entrou pelos Pórticos da Casa de Bethsda, e curou apenas um homem, o único que já não tinha mais esperanças no Tanque, naquelas águas. Jesus ordenou a ele que se levantasse, tomasse o seu leito e andasse dali. Parece que ninguém viu isso, e parece que até hoje ninguém vê isso. Todos ficam aguardando algo fantástico, todos ficam esperando a visitação de um anjo, sem perceber que Jesus esta presente. Enquanto o Espírito me fazia refletir aquela situação na Casa do Oleiro, naquela noite quente, uma criança começou a sorrir, depois deu uma gostosa gargalhada e todos olharam pra ela. O silencio foi quebrado. Um homem olhando a garotinha sorrir, comprimiu os lábios e caiu em pranto, outras pessoas ajoelharam-se e se puseram a orar em meio tom. Um quebrantamento tomou conta de todos, de uma forma tão suave, tão delicada. algumas pessoas saíram de seus lugares e abraçaram outras, e oram juntas, choraram juntas, se beijaram em santidade e verdadeira manifestação de amor.
Alguém levantou a voz e disse:
- Há muitos anos esperava por essa cura interior. Meu coração estava tão carregado, tão cheio de magoas que minha vida estava travada, mas nesta noite com certeza, Jesus ordenou que eu me levantasse dessa auto piedade em que havia mergulhado. Aquele sorriso, daquela garotinha mostrou-me que Jesus estava aqui, e eu precisava pedir a ele que me curasse,me libertasse definitivamente...
Outra pessoa levantou-se dizendo:
-Foi por curiosidade que entrei aqui. O silencio estava me incomodando. Não vi nada, não percebi nada, nem ouvia nada interiormente, queria ver algum movimento, alguma coisa acontecer. E o silencio apenas me irritava mais ainda. Chequei a pensar que tudo não passava de uma palhaçada. Foi quando a menina riu, como que olhando para alguém que brincava com ela. Um temor muito grande encheu meu coração. Queria ver coisas com os olhos da carne, mas precisava olhar meu interior cheio de incredulidade e dureza. O Espírito de Deus revelou-me o quanto eu havia me afastado das coisas puras e inocentes, sinto alguém novo nascendo dentro de mim...
Outra pessoa exultando de alegria, uma jovem de pouco mais de 15 anos, abraçando seu pai, dizia:
- Há anos não conseguia fazer isso; abraçar meu pai, dizer que o amo, olhar nos olhos dele. Meu coração estava cheio de ódio, de magoa e de rancor. Estou livre agora. Aquele sorriso foi de Jesus mesmo. Estou me sentindo como uma pessoa que estava numa cadeira de roda há anos. Pedi perdão ao meu pai, ele me abraçou e me beijou e disse que me ama. Estou livre daquele sentimento paralisante em minha alma...
Outros testemunhos foram dados. Todos testemunharam algo novo acontecendo, e o Senhor me disse: - Com certeza aqui não é o Tanque de Bethsda, pois todos foram curados.
Olhei para a garotinha que havia sorrido e gargalhado, e ela dormia descansada, como uma criança desmamada no colo de sua mãe.
Era manhã de domingo. Algumas pessoas saíram em direção as suas casas. Outras ainda ficaram ali. Alguns irmãos e irmãs preparavam um desjejum, com os “peixinhos e pães” que alguns trouxeram e colocaram em comum. Havia suficiente para todos. O Senhor sempre faz seus milagres, e nunca despede a multidão com fome. Sacia nossas almas, nos farta de pão e de Vida, por amor do seu santo nome.
Ele nunca nos deixa confundidos nem frustrados.
Se pararmos de olhar pra água, por certo veremos o Senhor entrar. Hoje, e agora, aqui mesmo onde nós estamos, na casa do oleiro.
Projcflor- Daniel
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